Por Rabino Hillel Goldberg. Leia o artigo completo no Jewish World Review.
Existe uma psicologia do ódio e uma psicologia de ser odiado. É importante entender as duas. Obviamente, a psicologia de ser odiado pode ser simples e negativa: debilitação, renúncia, derrota. [No Êxodo] os judeus oprimidos pelo faraó apresentaram uma resposta diferente, afirmativa e necessariamente complexa. Os capítulos iniciais de Êxodo revelam a psicologia afirmativa difícil, porém heróica, de ser odiado. É, é claro, mais do que uma psicologia. É uma mentalidade que leva à ação. Inclui estas nove estratégias: crescimento, rebeldia, colaboração, violência, exílio, liderança, fé, confronto e culpa.
O faraó, temendo o crescimento da população judaica, escraviza os judeus.Coloca sob trabalho opressivo. A resposta deles? “Por mais que os capatazes egípcios oprimissem a nação judaica, ela aumentava” (Êxodo 1:12). O faraó instrui as parteiras judias a matar todos os recém-nascidos do sexo masculino; as parteiras burlam sua ordem. O faraó, então, instrui o povo judeu a matar os recém-nascidos machos que as parteiras deram à luz; a nação burla a ordem.
Esta é a primeira reação ao ser odiado: cresça. Não pergunte como os filhos vão viver, apenas os conceba e os crie. Lute contra a ameaça de dizimação demograficamente. Tenha filhos, não importa o que aconteça. No Egito, eles enfrentaram a morte no Nilo; 3.000 anos depois, em grande parte da Europa Oriental, os judeus enfrentaram pobreza e pogroms amargos. Nos dois períodos, eles testemunharam algumas das maiores taxas de aumento da população na história judaica. O sofrimento estimulou o comprometimento. Mesmo nos campos de concentração, mulheres judias tiveram filhos judeus. O protótipo deles é Moisés. Ele nasce sob pressão, sob pena de morte.
Então, quando vivo, ele é escondido para evitar ser morto. Ele sobrevive devido à rebeldia – a segunda resposta ao ser odiado. A rebeldia é separada da vontade de gerar filhos, porque o a rebeldia implica mais do que os pais. Ela implica as parteiras e outros membros da família que conhecem a conspiração demográfica. As parteiras judias, duas das quais são citadas e elogiadas, desafiam Faraó apesar do risco de morte.
A terceira resposta ao ser odiado é a colaboração. A irmã de Moisés, Miriam, desavergonhada e efetivamente colabora com a filha do faraó. Miriam sabe que, para que a filha de Faraó seja a patrocinadora de Moisés, Moisés deve ser criado no palácio do inimigo. Colaboração!
Quando Moisés cresce, ele acrescenta a quarta e quinta reações ao ódio: violência e exílio.
Não obstante sua educação egípcia, Moisés de alguma forma sabe que é judeu. A resposta dele? Violência. Ele fere mortalmente um egípcio. A vida de Moisés está em perigo. Ele foge para o exílio – para Midian.
A reação violenta ao ser odiado inclui recuar. A repugnância absoluta ao mal, como a reação violenta de Moisés a um egípcio espancando um escravo hebreu, não é suficiente. A reação total ao ódio aumenta o quadro da violência para incluir reflexão, planejamento e identidade espiritual. De Davi se escondendo do rei Saul e escrevendo salmos, até os macabeus dos tempos antigos e modernos recitando esses salmos, guerreiros e revolucionários bem-sucedidos agem dialeticamente: violência reflexiva, seguida de exílio para crescimento espiritual e refinamento tático, e novamente ação, desta vez mais pensada, poderoso e generalizada.
O quadro maior que emerge do exílio de Moisés é a sexta e sétima reações ao ser odiado: liderança baseada na fé. No exílio, Moisés cria uma identidade espiritual, tanto religiosa quanto política. Sua fé e liderança são coextensivas, ambas enraizadas na santidade.
Moisés é transformado.
Assim começa a longa conversa política e religiosa da Bíblia entre Deus e Moisés. O assassino do capataz egípcio, exilado, agora sobrecarregado com essa reação ao ser odiado: um mandato divinamente imposto para se tornar um líder, para retirar não apenas a si mesmo, mas a todo o seu povo, da condição de serem odiados. Por mais heróico e essencial que seja, o crescimento demográfico não é suficiente. Por mais que demonstrem força de caráter, rebeldia e colaboração não são suficientes. Por mais que demonstrem coragem e determinação, a violência e o exílio não são suficientes. Todos eles fornecem soluções parciais. O que é necessário é uma solução total: a redenção total do total do povo. Consequentemente, o próximo nível de resposta da Bíblia – liderança – requer extensa definição e ênfase.
A liderança de Moisés baseia-se na fé, que está enraizada na santidade e leva à obediência à palavra de Deus. Moisés deve consultar Deus e Deus deve instruir Moisés para que sua liderança se concretize.
O longo e singular encontro de Moisés com Deus começa com relutância, perguntas e dilemas: Quem sou eu? Moisés pergunta. Qual é o nome de Deus, para que eu possa convencer as pessoas que sou Seu mensageiro? Por que eles deveriam acreditar em um gago como eu? As respostas de Deus às perguntas simples e obstinadas de Moisés -Deus formando Moisés como líder – incluem alguns dos versos mais misteriosos e profundos das Escrituras: “Eu sou o que sou [é o meu nome]”; “Quem faz uma boca para o homem, ou quem faz um burro, ou surdo, ou perspicaz ou cego?” “E eu vou endurecer o coração [do Faraó] e ele não irá enviar o povo.’
Moisés precisa desses ensinamentos profundos porque ele não é apenas um líder, ele não é apenas uma revolução. O objetivo de sua liderança – sua resposta ao ódio – é, na verdade, mais do que redenção total para o total de um povo.
Moisés deve se tornar um líder de Deus para redimir o povo de Deus para tornar o mundo um lugar de Deus. A revolução de Moisés é, ao mesmo tempo, paradigmática e singular. É uma resposta ao ódio ao mesmo tempo instrutiva e sem paralelo.
Como líder, Moisés dá a oitava reação ao ódio: confronto com o opressor. Moisés e seu irmão, Arão, vêm ao Faraó e exigem a libertação dos judeus. Sua identidade espiritual firmemente ancorada, eles exigem libertação em nome de Deus e ligam os judeus a Deus.
Quando o amargo e brutal confronto entre Moisés e Faraó começa, a tática inicial do faraó é punir Moisés. O faraó exacerba as condições da escravidão. Naturalmente, o povo se ressente de Moisés por isso. Eles vêem causa e efeito: Moisés visita Faraó, suas condições pioram.
O faraó procura dividir e conquistar: posicionar a liderança do grupo odiado contra a hierarquia. Isso leva à nona e última resposta ao ser odiado: culpa. “Que Hashem olhe para você e julgue”, dize o povo, amargamente, a Moisés”, pois você fez nosso próprio perfume repugnante aos olhos de Faraó e dos olhos de seus servos, para colocar uma espada nas mãos deles para nos matar!” (Êxodo 5:21)
Desnecessário dizer que o desdobramento seqüencial das nove estratégias de resposta ao ódio não determina a ordem ou a combinação na qual elas serão usadas posteriormente. Mas esta é a mistura: crescimento, rebeldia, colaboração, violência, exílio, liderança, fé, confronto e culpa.