Continuação do artigo de Tommy Nelson. O que um profissional faz quando não é capaz de encontra a paz que ele pregara por anos? Acompanhe a análise feita por um profissional que tem, entretanto, a perspectiva de dentro do problema. A primeira parte do artigo você lê aqui, e a última aqui.
E a ansiedade é apenas metade disso. O outro lado da moeda é a depressão clínica. É um buraco negro onde toda emoção parece ser removida de você. A pior parte, porém, é que você não tem nada com que comparar isso. Você simplesmente não tem ideia do que está errado. Tudo isso começou comigo de manhã cedo naquela segunda-feira de junho de 2006.
Às nove horas, eu estava sentado no pátio com meu coração clamando a Deus. Em quatro dias, 800 pessoas apareceriam para a conferência sobre os Romanos, e lá estava eu, incapaz de sequer sentar por trinta segundos. Eu estava em constante estado de agitação, sem nenhuma capacidade de dormir ou mesmo de pensar direito. Dois meses antes, meus pés, como disse Jó, “estavam banhados em leite”, e agora eu estava como Jonas, “descido até as raízes das montanhas” no ventre da besta.
Minha esposa disse que eu a fazia lembrar do cavalo Barbaro*, que ganhara o Derby de Kentucky de 2006, mas depois quebrara a perna no início do Preakness duas semanas mais tarde. A corrida terminou para ele, mas ele continuou tentando correr. Finalmente, eles tiveram que amarrar sua perna dianteira à parte superior da perna para que ele não se machucasse mais. Por mais doloroso e infrutífero que essa tentativa fosse, eu sei por que ele tentava correr. Ele tinha sido treinado para correr. Esperava-se dele que ele corresse. Esperava-se de mim também.
Liguei para os anciãos de minha igreja e confessei a eles que eu tinha sido brindando e não podia continuar. Eu disse a eles que eu precisava de pelo menos três meses para descansar e tentar me livrar do que quer que tivesse me agarrado. Esses homens estiveram comigo o tempo todo. Eles disseram que qualquer coisa que eu precisasse seria fornecido. Eu realmente não sei o que eu teria feito sem eles.
Não só cancelamos a conferência sobre o livro de Romanos, mas eu tive que cancelar as próximas conferências sobre os Cânticos de Salomão também, e isso foi difícil para mim. Não era apenas a perda de renda, que foi real, mas também era o fracasso em continuar o que eu considerava meu dever.
Uma vez que deixei as conferências, no entanto, senti como se uma tremenda carga tivesse sido tirada de mim.
Comecei a descobrir algumas coisas. O estresse faz com que o corpo funcione com adrenalina, o que é bom por um curto período de tempo, mas não por um longo período, porque a adrenalina produz cortisol e o cortisol inibe a produção e o uso adequados da serotonina – um neurotransmissor que faz o seu cérebro funcionar como deveria. O que tem que ser feito é localizar a fonte do estresse de longo prazo e começar a eliminá-lo.
No meu caso, era fácil identificar o problema – excesso de trabalho – e, então, eliminá-lo, jogando fora tudo da minha agenda. Mas mesmo quando você remove a fonte, os sintomas horríveis da depressão e da ansiedade continuam. Eles devem baixar como águas de enchentes – devagar e constantemente – e isso pode ser angustiante.
É aterrorizante quando sua mente – precisamente o seu meio de percepção – fica prejudicada. Às vezes pensamos na mente como um mecanismo livre e objetivo que flutua fora dos dados sensoriais e nos informa sobre o mundo em que estamos. O fato é que nossa mente opera dentro de um órgão – o cérebro – e enguiça como qualquer parte de nosso corpo. Ela pode ficar prejudicada, e isso é assustador.
Durante o dia, eu raramente podia sentar por mais de um minuto mais ou menos, porque era como se as minhas pernas estivessem acabando de despertar depois de “adormecer”.
Ler era quase impossível, porque minha mente simplesmente não conseguia parar numa página ou frase e pensar nela. Minha maior alegria na vida era a minha Bíblia, mas eu não consegui lê-la por mais de trinta segundos. Eu não conseguia ler um jornal nem mesmo assistir TV, porque minha mente não permanecia em um assunto.
Mas descobri a profundidade da misericórdia de Deus por outros meios. Por exemplo, uma coisa que Deus fez foi permitir que meu filho John, que jogava na liga menor de baseball Triplo A pelos Redbirds de Memphis, tivesse um tremendo ano de beisebol no mesmo momento em que minha ansiedade estava chegando ao auge. Minha esposa e eu assistíamos ele na internet, e sempre que ele fazia um grande lance ou conseguia um resultado, nos alegrávamos.
Por alguma razão, a aproximação da noite me dava consolo, porque eu sabia que um comprimido para dormir me daria um breve alívio. Meu corpo iria relaxar antes de dormir, e eu poderia deitar e finalmente ler. Eu lia o devocional da Manhã e Noite, de Charles Spurgeon. Esse famoso pregador passou por depressão, e de alguma forma eu me sentia consolado por ele um século depois.
Eu adormecia por volta das dez, e depois, às três da manhã, eu podia literalmente sentir a ansiedade rastejar para mim. O sono natural, agora, era impossível. Durante quatro meses, eu não adormeci sem a ajuda de medicamentos.
As pessoas que passam por depressão geralmente têm uma pessoa segura ou lugar seguro onde a depressão parece mais leve. Minha esposa era minha pessoa segura. Às vezes, Teresa ia à verduraria, e eu a com ela como uma criança deficiente – o que eu era.
Mas Deus continuou a me tocar de maneiras que ultrapassavam as Escrituras que eu não conseguia ler. Um dia, eu ouvi Buddy, meu Jack Russell terrier, latindo e pulando na nossa varanda de tela fechada. Um beija-flor tinha entrado pela porta de tela, aberta, e não conseguia encontrar a saída. Ele voava repetidamnente contra uma barreira, e depois outra. Debaixo dele, Buddy esperava que o pássaro ficar exausto e cair em suas mandíbulas que aguardavam.
Tentei ajudar o pequeno pássaro, mas ele voou para longe de mim. Finalmente, quando ficou completamente esgotado, eu o peguei em minhas mãos. Um beija-flor é surpreendentemente pequeno e delicado quando você olha um de perto. Ele ainda estava em minhas mãos. Eu levei-o para fora, e logo após ele se reanimar, eu o deixei ir.
Senti-me basicamente igual diante de Deus. Eu estava encurralado em um lugar que eu não conseguia ver, entender ou escapar. Tudo ao meu redor era desespero e morte, e o Único que podia me ajudar era Aquele que eu mais temia agora, me perguntando se eu o tinha ofendido de alguma forma. E, no entanto, eu sentia que de algum modo, algum um dia, eu também seria liberado para uma nova vida. Beija-flores, às vezes, podem ser tão reconfortantes quanto toda a verdade escrita.
Nesse ponto, percebi o grande dilema que um cristão enfrenta com esse problema. Tente o quanto puder citar versículos da Bíblia sobre ansiedade, seu corpo simplesmente não vai responder. Você também pode dizer a um tetraplégico para trabalhar com o entorpecimento e andar. Algo mais está errado com uma pessoa deprimida do que a vontade e a atitude, mas não pode ser detectado com uma ressonância magnética.
Liguei para um amigo próximo do Conselho Médico da Baylor e lhe perguntei o nome do melhor médico que conhecia. O médico era um bom clínico geral, que também era diácono na Primeira Igreja Batista de Dallas. Depois que o médico me fez passar por uma bateria de testes, ele me deu sua avaliação. “Não há nada errado fisicamente com você. Você está passando por ataques clássicos de ansiedade e pânico”. Isso era o que eu sabia ser verdadeiro dentro de mim, mas não queria admitir. Ansiedade – algo para os fracos.
– Você pode, – ele sugeriu – sentar-se com um conselheiro ou encontrar um psiquiatra cristão.”
Eu era o homem que acabara de falar com uma associação de conselheiros cristãos. Eu tinha escrito livros sobre casamento e sucesso na vida. Eu tinha escrito uma visão geral da Bíblia e, ainda assim, eu precisava de alguém para me aconselhar.
Foi o ponto mais baixo da minha vida. Eu sairia disso? Era este o “colapso nervoso” de que eu sempre ouvira falar? Eu continuaria para baixo e enlouqueceria? Eu teria que ser pastoreado por minha esposa? Eu não desfrutaria da minha família nunca mais? Minha igreja cuidaria de mim? Tudo pelo que eu tinha lutado terminara?
[…]
* Diferentemente de outros mamíferos, como os cachorros, um cavalo não é capaz de sobreviver em circunstâncias humanas, sobre três pernas. Uma perna quebrada em um cavalo pode levar a complicações enquanto as outras pernas tentam suportar o peso do corpo do cavalo.
Continua na Parte III
2 respostas