Identidade: Indivíduo e Estado versus Hierarquia Subsidiária do Céu
A questão da identidade assombra-nos, subjacente aos nossos excessos e nossos extremos políticos. Como indivíduos, na ausência de uma identidade firme, ficamos à deriva. Precisamos de algo capaz de unir o nosso eu interior e os nossos interesses e esforços com os outros, para que possamos cooperar e competir de forma pacífica, produtiva, reciproca e sustentável.
O mundo moderno tem entendido cada vez mais a identidade como uma dualidade entre um indivíduo idiossincrático e um coletivo sempre totalizante. Estas duas tendências tem crescido simultaneamente, por um lado, o culto da particularidade – a exceção, a diferença – e, por outro, um estado burocrático crescente e sistemas globais com uma inclinação autoritária, necessários para proteger indivíduos cada vez mais fragmentados uns dos outros.
O resultado tem sido a lenta mas persistente erosão das identidades intermediárias: a família, as comunidades, as afiliações religiosas, os clubes e a nação – uma vez que o indivíduo vê estas identidades intermediárias como restringindo a sua liberdade. O coletivo crescente vê estas participações intermediárias como visões impuras de si mesmo, competindo com a sua própria identidade totalizadora. Somos deixados com indivíduos desesperados e solitários que enfrentam um estado cada vez mais controlador e invasivo.
Existe uma outra visão de identidade, refletida em muitas das sociedades tradicionais do nosso mundo e nos seus padrões naturais. É o que poderíamos chamar de identidade subsidiária. Identidade subsidiária é compreender que, como indivíduos, já estamos trazendo para dentro de nós todos os diferentes pensamentos, sentimentos e micropersonalidades psicológicas. É a nossa própria capacidade de unir o múltiplo num só que se torna um espelho de como somos parte de identidades mais elevadas e mais amplas, dentro das nossas unidades familiares, das nossas comunidades, das nossas cidades e da nossa comunhão religiosa.
Da mesma forma, as nossas famílias são elas próprias agentes unificados na construção de cidades, e as nossas cidades unificadas são identidades reais que formam nações, com cada nível existindo como o seu próprio nível de realidade, autonomia, mas em última análise sempre entregando-se a participações mais elevadas. Nesta visão, rapidamente percebemos que a visão mais elevada de identidade e participação não é o governo, embora os governos sejam necessários, mas nas próprias virtudes que tornam possível a existência conjunta em harmonia, em primeiro lugar, e, em última análise, o próprio Bem transcendente.
Ser cidadão não é ser cidadão de um coletivo abstrato, é ser pai, amigo, vizinho. Não é na suspeita constante de nenhuma identidade comum, mas é na comemoração e na recordação dos nossos laços imediatos, das nossas histórias, que podemos estar ancorados devidamente no mundo. Ao alinhar a nossa visão para além das particularidades, ao visar virtudes superiores – mas também com pleno conhecimento da diferença, das exceções, na compaixão por aqueles que não se enquadram nos nossos ideais – mantemos as nossas identidades subsidiárias ao serviço do Bem maior.
Jonathan Pageau e Jordan Peterson
Jonathan Pageau é artista, escritor e orador. Ele é um pioneiro no renascimento da Arte Litúrgica para o século XXI. Por meio de seu podcast The Symbolic World, ele promove a redescoberta do pensamento simbólico e uma visão de reencantamento no mundo.
Dr. Jordan B. Peterson é psicólogo clínico e professor emérito da Universidade de Toronto. De 1993 a 1998, atuou como assistente e depois professor associado de psicologia em Harvard. Dr. Peterson escreveu os best-sellers globais Beyond Order: 12 More Rules for Life e 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos.
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Identidade: o Individuo e o Estado versus a Hierarquia Subsidiária do Céu.
Jonathan Pageau e Jordan Peterson
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