Por Dennis Prager
Explicando a esquerda, parte III: Esquerdismo como religião secular
Um dos livros mais importantes do século 20 – continua a ser um best-seller 59 anos depois de ter sido publicado pela primeira vez – é “Man’s Search for Meaning” de Viktor Frankl.
Marx via o impulso primário do homem como econômico e Freud o via como sexo. Mas Frankl acreditava – corretamente, na minha opinião – que o maior impulso do homem é por significado.
Uma pessoa pode ser pobre e casta mesmo assim ser feliz. Mas não se pode ser desprovido de significado e ser feliz – não importa quão rico ou quão sexualmente realizado se possa ser.
A maior fonte de significado para a grande maioria dos seres humanos é a religião. No Ocidente, o cristianismo (e em menor escala, o judaísmo) forneceu a quase todas as pessoas a Bíblia, um texto divino ou divinamente inspirado para guiar suas vidas; uma comunidade religiosa; respostas às questões fundamentais da vida; e, acima de tudo, significado: um bom Deus governa o universo; a morte não acaba com tudo; e os seres humanos foram criados com um objetivo. Além disso, o cristianismo deu aos cristãos um projeto: divulgar as boas novas e levar o mundo a Cristo. E o judaísmo deu aos judeus um projeto: viver de acordo com as leis de Deus de ética e santidade e ser “uma luz para as nações”.
Tudo isso desapareceu para a maioria dos ocidentais. A Bíblia é considerada um mito, na melhor das hipóteses, mal intencionada, na pior – não há Deus nenhum, e certamente não o Deus que dá a moralidade e que julga, da Bíblia; não há vida após a morte; os seres humanos são uma coincidência sem objetivo, sem nenhum propósito mais intrínseco além de qualquer outra coisa no universo. Em suma: isso é tudo o que existe.
Então, se a necessidade de significado é a maior de todas as necessidades humanas e aquilo que fornecia significado não fornece mais, o que milhões de ocidentais deveriam fazer?
A resposta é óbvia: encontre significado em outro lugar. Mas onde? A igreja não irá fornecer isso. Nem o casamento e a família – cada vez mais, os indivíduos seculares no Ocidente evitam o casamento e um número ainda maior não têm filhos. Acontece, para surpresa de muitos, que casamento e filhos são valores religiosos, não instintos humanos. No Ocidente hoje, amor e casamento (e filhos) andam juntos como um cavalo e uma carruagem para fiéis católicos, judeus ortodoxos, mórmons religiosos e protestantes evangélicos – não para os seculares. Conheço muitas famílias religiosas com mais de quatro filhos; não conheço uma família secular com mais de quatro filhos (e é provável que você também não).
A resposta à grande escassez de significado deixada pela morte da religião bíblica no Ocidente é a religião secular. Os dois primeiros grandes substitutos seculares foram o comunismo e o nazismo. O primeiro forneceu significado a centenas de milhões de pessoas; o segundo forneceu significado à maioria dos alemães e austríacos.
Em particular, ambas as ideologias deram significado à classe intelectual. Nenhum grupo acreditava no comunismo e no nazismo mais do que os intelectuais. Como todas as outras pessoas, os intelectuais seculares precisam de significado, e quando essa necessidade se combinou com o amor dos intelectuais pelas idéias (especialmente ideias novas – “novo” é quase erótico no poder de seu apelo aos intelectuais seculares), o comunismo e o nazismo se tornaram ideologias poderosas.
Com a queda do comunismo e a consciência da extensão do assassinato comunista em massa (cerca de 100 milhões de não-combatentes) e a escravização em massa (praticamente todos os indivíduos nos países comunistas – exceto os líderes do Partido Comunista – são essencialmente escravizados), o comunismo, ou pelo menos o palavra “comunismo”, caiu em descrédito.
Então, o que os intelectuais seculares fizeram quando o comunismo se tornou “o deus que falhou”?
A resposta foi criar outra outra religião secular de esquerda. E é isso que o esquerdismo é: um provedor de significado secular para suplantar o cristianismo. As expressões religiosas de esquerda incluem o marxismo, o comunismo, o socialismo, o feminismo e o ambientalismo.
Os princípios orientadores do esquerdismo – não obstante os princípios dos cristãos e judeus que alegam ser religiosos, mas possuem opiniões esquerdistas – são as antíteses do judaísmo e dos princípios orientadores do cristianismo.
O judaísmo e o cristianismo afirmam que as pessoas não são basicamente boas. O esquerdismo afirma que as pessoas são basicamente boas. Portanto, o judaísmo e o cristianismo acreditam que o mal vem da natureza humana, e o esquerdismo acredita que o mal vem do capitalismo, da religião, do estado-nação (nacionalismo), das corporações, do patriarcado e virtualmente de todos os outros valores tradicionais.
O judaísmo e o cristianismo sustentam que a utopia na Terra é impossível – só virá quando Deus quiser numa era messiânica ou após a morte. O esquerdismo afirma que a utopia deve ser criada aqui na Terra – o quanto antes. É por isso que os esquerdistas acham a América tão desprezível. Eles não se comparam a outras nações, mas a um ideal utópico – uma sociedade sem nenhuma desigualdade, nenhum racismo, nenhuma diferenças entre os sexos (na verdade, nenhum sexos) e nenhuma ganância, em que tudo que é importante é obtido gratuitamente.
O judaísmo e o cristianismo acreditam que Deus e a Bíblia devem nos instruir sobre como viver uma vida boa e como o coração é o último lugar para se procurar por orientação moral. Os esquerdistas desprezam qualquer um que se guie pela Bíblia e por seu Deus, e substituem o coração e os sentimentos pela instrução divina.
Pode haver um choque de civilizações entre o Ocidente e o Islã, mas o maior choque de civilizações é entre o Ocidente e a esquerda.