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Uma sociedade, e crianças, hiperssexualizadas ficam desatentas ao perigo

Trechos extraídos ou texto replicado na íntegra do site: .
Autoria do texto: Lenore Skenazy.
Data de Publicação: .
Leia a matéria na íntegra clicando aqui.
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Em 2018, Lenore Skenazy escreve um artigo sobre como as mães, nos EUA, estão enxergando traficantes sexuais de crianças em qualquer situação. Ela diz que o facebook está inundado de relatos como este:

Um homem veio até nós (no Sam’s Club) e perguntou se o carrinho vazio ali perto era nosso… Ele era um afro-americano com a cabeça raspada… Parecia um encontro inocente.

Numa segunda ida ao mercado, entretanto, viram o homem novamente:

[Ele estava] enviando mensagens de texto febrilmente em seu telefone, mas sem tirar os olhos da minha filha. Não tenho absolutamente NENHUMA dúvida de que aquele homem é um traficante à procura de meninas para roubar e vender.

Skenazy afirma que esse comportamento é de pânico infundado. Fundamenta sua conclusão, recorrendo a dois especialistas:

  • Bruce Schneider, especialista em segurança, que apelidou a situação de “enredo de fillme”. Quanto mais “enredo de filme” uma situação parece, menos provável é que seja real.
  • David Finkelhor, chefe do Centro de Pesquisa de Crimes Contra Crianças. Ele diz que esse medo primitivo “se junta ao fato de que vivemos em uma sociedade muito heterogênea, onde encontramos muitas pessoas cujo comportamento e motivos não podemos ler, com os quais não podemos nos identificar”. É um grande caso de medo do “outro”. Ela também diz que ele não ouviu falar de um único caso em que uma criança tenha sido tirada de um dos pais em público e forçada a entrar no comércio sexual. Zero. 

Skenazy usa o fato de que os verdadeiros traficantes constroem relacionamentos com os jovens que exploram, geralmente adolescentes problemáticos ou fugitivos, para fazer uma generalização perigosa:

Ninguém está afastando crianças de 2 anos da Target [qualquer lugar público movimentado].

Schneider já afirmou que urnas eleitorais são invioláveis, enquanto Finkelhor responsabiliza menores pelos relacionamento com os adultos.

Skenazy acertadamente mostra o perigo de esse pavor levar a um comportamento de histeria. Cita exemplos de jornais tendo que desmentir boatos:

 uma história […] sobre um homem sequestrando uma criança na frente da biblioteca local acabou sendo sobre um cara movendo um carrinho para fora do caminho para que ele pudesse chegar ao seu carro.

Entretanto, ela associa as postagens no Facebook ao libelo de sangue, uma mentira corrosiva, dos tempos medievais, que dizia que os judeus estavam matando crianças cristãs e usando seu sangue para fazer matzo:

 O libelo de sangue mais famoso de todos, diz a estudiosa medieval Emily Rose, foi o sequestro e assassinato em 1475 de um jovem italiano, Simão de Trento.

Simon não foi a primeira história desse tipo, mas a dele se tornou viral graças a uma nova mídia social: a mídia impressa. Cartazes e poemas divulgaram as acusações. Trento tornou-se um destino de peregrinação.

Não foi preciso mais que isso. De repente, pessoas em todo o continente começaram a alegar que uma criança cristã também havia sido assassinada por um judeu em sua cidade. “A maioria dessas crianças nem existia”, diz Rose, “e se existiram, não foram mortas”. Mas isso não impediu que as histórias pegassem. E as pessoas que os repetiam estavam empolgadas, porque de repente eles faziam parte de algo grande. Um drama!

As mães em pânico de hoje provavelmente não se vêem desempenhando um papel que remonta a séculos. Mas a única coisa nova é a mídia que eles estão usando para espalhar o medo.

Em princípio, Skenazy tem razão em promover a ideia de​ se voltar acreditar que ​as crianças ​”​podem fazer QUALQUER COISA com segurança ou sucesso por conta própria​”:

Mas cita exemplos do Japão e menciona a série da Netflix “Old Enough” [Com Idade o Suficiente]. Sem dúvida o mundo vislumbrado por ela é o ideal. Resta saber se suas ponderações são sinceras, uma vez que ela não faz referência à crescente insegurança em seu próprio pais, como, por exemplo, tentativas de estupro à luz do dia em lugares públicos:

https://twitter.com/i/status/1506097281539481607


Imagem:
Retuíte de Skenazy

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Editorial

Colunista do Conselho Internacional de Psicanálise.

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