As mídias sociais e as normas sociais freqüentemente sugerem, de maneiras não tão sutis, que a perfeição é o que você deve projetar externamente e alcançar internamente. A mensagem é clara: cada história do Instagram e post no Facebook deve retratar uma imagem de pura grandiosidade.
Se você não tiver tudo planejado e não conseguir enquadrar corretamente aquela selfie ou tirar aquela foto de sua refeição gourmet e compartilhar um momento de suas férias incríveis, você é, de alguma forma, inferior. Infelizmente, essas imagens da perfeição não são apenas “não reais”, mas também nos impedem de sermos e nos tornar os nossos eus mais poderosos, autênticos e impactantes.
Esconder-se atrás das máscaras de perfeição em nossas escolas e casas de adoração, no trabalho ou com amigos pode parecer o que devemos fazer, mas está causando estragos em nosso bem-estar psicológico e afundando nossas almas.
Parte da resposta à ansiedade avassaladora dos adolescentes e dos adultos encontra-se em desistir da afirmação artificial da perfeição. Só então as pessoas podem mostrar uma vulnerabilidade corajosa, comemorar o tecido cicatricial e encontrar a beleza e o poder do destroçamento.
Derrubar a fachada da perfeição e reparar a ansiedade subjacente começa com conversas honestas e autênticas em nossas casas e comunidades. Os pais devem não apenas ouvir e fazer perguntas; eles também devem ser modelo do tipo certo de comportamento. Em vez de dizer a um adolescente para “se animar” ou “superar” quando percebe o estresse ou a ansiedade em um filho, os pais devem mostrar empatia e ser corajosos o suficiente para compartilhar suas próprias ansiedades ou estressores. Dizer algo como: “Entendo a sua ansiedade sobre essa situação na escola. No trabalho, hoje, fiqueia a ponto de me enfiar debaixo da mesa, em vez de enfrentar aquele cliente irritado.”
A vulnerabilidade corajosa pode ser um dos atributos mais importantes para os pais e seus filhos desenvolverem. Ser capaz de pedir ajuda, indicar claramente os estressores e articular preocupações ou fraquezas sem sentir-se sem valor são componentes-chave para ter conversas cruciais sobre saúde mental. Recentemente, atletas, como o nadador olímpico Michael Phelps, o quarterback da BYU Tanner Mangum e o astro da NBA, Kevin Love, juntamente com seu treinador, Tyronn Lue, mostraram vulnerabilidade corajosa ao compartilhar suas batalhas contra a ansiedade e a depressão. Essas celebridades são bons modelos, mas também precisamos de pais, professores, amigos e vizinhos que estejam dispostos a se abrir e a compartilhar de maneira autêntica.
A escritora Brene Brown escreveu: “A vulnerabilidade soa como verdade e parece coragem. A verdade e a coragem nem sempre são confortáveis, mas nunca são fraqueza”.
O senador Ben Sasse, um republicano de Nebraska, escreveu em seu livro “The Vanishing American Adult” sobre como frequentemente envolvemos nossos filhos em “bolhas”, na tentativa de protegê-los do fracasso, do desconforto ou da dor. A mensagem enviada é que o fracasso é fatal e os adolescentes nunca devem se arriscar a parecer mal na frente dos outros. Sasse acredita que devemos fazer o oposto. Ele diz que devemos “comemorar o tecido cicatricial”. Cair de uma bicicleta, não ser cvonvocado para a equipe de softbol, perder uma eleição de escola ou ser rejeitado para um emprego são oportunidades de crescimento e podem conter lições críticas de vida. Seguir o ditado de ver o fracasso como fertilizante para o sucesso futuro pode ser exatamente a mensagem que nossos jovens precisam.
Durante o meu tempo no Japão, fiquei intrigado com a antiga arte do kintsugi. Diz a lenda que começou com o shogun Ashikaga Yoshimasa, que quebrou uma xícara de chá. Depois de várias tentativas fracassadas de consertar a xícara, uma equipe de artesãos a montou novamente usando uma forma de resina misturada com ouro em pó. O resultado não foi apenas a restauração de uma xícara de chá preciosa, mas a transformação completa da xícara em uma obra de arte com linhas douradas onde ocorrera a ruptura.
Quando um bule, vaso ou pires se danifica ele quebra de maneira única – duas rachaduras ou fraturas nunca serão iguais – o que significa que a cicatriz dourada do processo kintsugi é sempre distinta. A palavra kintsugi significa literalmente “reparação de ouro”, mas muitos se referem a ela como a arte de cicatrizes preciosas.
Todos nós estamos despedaçados. Ao reconhecer nossas falhas e imperfeições, podemos encontrar a beleza e a força que vêm do nosso destroçamento. As lascas e as rachaduras da vida, do fracasso, da frustração e da ansiedade podem criar cicatrizes douradas que nos tornam mais fortes e imensamente mais valiosos.
Ultrapassar a falsa máscara da perfeição, aprender a ser corajosamente vulnerável, comemorar o tecido cicatricial e compreender o infinito valor dentro da fragilidade de cada ser humano ajudará pais e adolescentes a navegar melhor no espaço frequentemente debilitante da ansiedade e da depressão. Ao enfrentar algumas conversas desconfortáveis, uns com os outros e dentro de nós mesmos, podemos descobrir que, na verdade, conseguimos nos tornar mais fortes em nossos momentos de dificuldades e ter cicatrizes inestimáveis de ouro para provar isso.
Fonte:
www.theschooloflife.com/thebookoflife/kintsugi
utilespyy.com /kintsugi-the-golden-seam/#
http://lounge.obviousmag.org/proparoxitonas/2012/10/kintsugi-ou-a-beleza-da-imperfeicao.html
www.lifegate.com/people/lifestyle/kintsugi