No domingo, o Fantástico vendeu a ideologia de gênero como se fosse uma teoria cientificamente fundamentada. São todos ideólogos usando o filho dos outros como cobaias. O principal furo da ideologia de gênero está em assumir, indiscriminadamente, a distinção radical entre mente e corpo. A pessoa é uma identidade mente-corpo e não um rato de laboratório. E atenção: criticar a ideologia de gênero não implica ódio aos que sofrem os dramas da identidade. Sabe-se lá o grau da dor de uma pessoa em crise. A sua vida interior só não pode servir de propaganda desses papagaios desonestos.
Rodrigo Constantino acrescenta que a condição humana é angustiante em si, e cita Gregory Wolfe:
“Enquanto a ideologia frequentemente reivindica as certezas de um sistema intelectual absolutista, seus efeitos nas experiências efetivas dos indivíduos tendem a produzir sensações de alienação e desorientação. O projeto moderno, que começou com a elevação do self e a alegação de seu poder quase ilimitado, resultou em um mundo em que o self individual é um fragmento precário, sem ligação com a verdadeira comunidade ou obediência à autoridade legítima.
[…]
Uma das ideias que emergem do pós-modernismo e mais profundamente influenciaram nossa consciência cultural é a noção de que nossas visões de mundo são “construídas” com base nos alicerces de nossa identidade pessoal – raça, classe, gênero, etnia e assim por diante.
[…]
Quando o homem separa a si mesmo do conhecimento do ser, ele já não participa dele, mas sim procura manipulá-lo para seus próprios fins privados. A partir desta separação inicial, este cisma aboriginal, numerosas seitas surgem, pois o homem agora é livre para rejeitar a existência (niilismo), ver a natureza como uma força cega e determinante (naturalismo) ou proclamar que a mente pode criar a sua própria realidade (idealismo ou solipsismo).”
O esquerdismo quer convencer o mundo que o gênero é uma “construção social”. Tem sido bem sucedido porque faz isso por meio da imprensa e da cultura, mundiais, que domina.
Constantino conclui que isso “não vai fazer a angústia desaparecer. Ao contrário: ao retirar o “sentido trágico da vida”, como diria Miguel de Unamuno, aquele que está em uma posição ainda mais sensível do que o normal pode muito bem surtar de vez, pois lhe foi prometida uma fuga fácil (“basta acreditar que é do outro gênero e realizar uma cirurgia que tudo ficará bem”), mas tal promessa é irreal e impossível. Considero até cruel com quem é vítima desse transtorno uma abordagem tão anticientífica e ideológica como essa.
PS: O leitor Felipe Pavan apontou a gritante incoerência dessa turma “progressista”: “Com 4 anos já pode decidir o sexo que deseja externar, mas com 17 não pode responder criminalmente pelas próprias decisões. Essa é a lógica atualmente imposta à sociedade”. Como negar o absurdo dessa postura tão comum na esquerda?”
Milo Yiannopoulus fala sobre o assunto aqui:
As três coisas que fazem nossa vida valer a pena podem ser resumidas assim: ser amado, ser compreendido, ser útil.