[…] Ao contrário das mercadorias idealistas que são compradas e vendidas hoje, a fórmula bíblica para crescimento não é agradável, nem gratificante para o ego. Em vez disso, é um trabalho árduo e tem tudo a ver com chegar ao fim de si mesmo e compreender a necessidade crítica de arrependimento e abandono do pecado.
I. INTRODUÇÃO
A Bíblia tem muito a dizer sobre como uma pessoa pode mudar; na verdade, as Escrituras revelam que quem está em Cristo mudará para melhor.1 Mas como exatamente essa mudança acontece? Ou melhor, como o crente – para usar o termo teológico apropriado – é santificado? Além de todas as teorias seculares a respeito de alcançar crescimento pessoal e mudança para melhor, pelo menos quatro grandes visões históricas / teológicas se oferecem em resposta a essa pergunta. Mas […] apenas uma delas tem uma base bíblica sólida. Muito resumidamente, são as seguintes:
A. PERFECCIONISMO TOTAL
O primeiro, conhecido como perfeccionismo cristão, deriva de Charles Wesley, o histórico líder inglês do movimento metodista. Aqui, uma suposta segunda obra da graça, pós-salvação, catapulta o crente para um estado de “impecabilidade”. Outro nome para essa visão defeituosa é “santificação inteira”. O crente pode cometer erros, mas, supostamente, ele não está mais pecando. O crescimento espiritual é indicado pelo aumento das boas obras. Simplificando, num sentido do mundo real, o perfeccionismo wesleyano é problemático porque só se precisa perguntar ao cônjuge da pessoa perfeita se ele ou ela é perfeito. A realidade prática sugere que nenhum crente, nesta vida, alcança a santificação / perfeccionismo total, nem as Escrituras sustentam essa visão.
B. CRESCIMENTO PASSIVO
Uma segunda visão amplamente aceita da santificação é a Escola de pensamento Keswick […]. Nesse entendimento, os crentes crescem passivamente em seu relacionamento com Cristo. Um crente precisa apenas “se render” para crescer espiritualmente. Simplesmente continue bebendo da Bíblia e você amadurecerá. […] Mas, como será visto nas duas visões a seguir, a graça de Deus capacita a responsabilidade humana no processo de santificação. Há uma expectativa bíblica para a atuação da volição humana na conquista do crescimento espiritual.
C. PENITÊNCIA E REMORSO
[…] Considerando que as duas posições anteriores são praticadas erroneamente entre aqueles com uma soteriologia bíblica (ou seja, uma compreensão adequada do que a Bíblia ensina sobre a verdadeira fé salvadora), penitência é a ideia de impor algo como punição pelo pecado. Em outras palavras, a penitência é uma tentativa humana de equilibrar a balança. No mundo dos que buscam penitência, nem a justificação (a salvação de alguém) nem a santificação (o crescimento espiritual de alguém) são imputados, da parte de Deus, por meio de Sua capacitação (conforme as verdades de 1 João 1: 9 e muitas outras passagens). Em vez disso, a salvação de uma pessoa e sua santificação se conquistam por meio do esforço próprio ou mérito pessoal. Dessa forma de pensar, segue-se que se uma pessoa é salva por mérito pessoal, ela cresce por mérito pessoal. Um indivíduo se santifica por realizar boas ações, obras ou orações compensatórias, a fim de propiciar (satisfazer) seus erros; em outras palavras, a culpa o faz mudar. O problema é que, comparado às posições anteriores, não há base bíblica comprovada para essa crença ou prática.
D. SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA
A quarta posição sobre a santificação é a visão respaldada pelas Escrituras: Santificação Progressiva. A Bíblia revela, repetidamente, que um ciclo vitalício de arrependimento e renovação progride o crente em direção à semelhança de Cristo, e esse processo de crescimento só será concluído quando o crente voltar para casa para estar com o Senhor. Não há perfeição deste lado do céu. O crescimento e a mudança são alcançados por meio da participação ativa e disciplina do crente a quem o Espírito Santo estimula e energiza para a tarefa. Filipenses 2: 12–13 e muitas outras passagens respaldam este resumo sobre a santificação:
“Portanto, meu amado, assim como sempre obedeceste, não como na minha presença apenas, mas agora muito mais na minha ausência, opera a tua salvação com temor e tremor; pois é Deus quem está trabalhando em você, tanto para querer como para trabalhar para o Seu agrado ”.
Observe esta passagem com atenção. Trabalhar (a palavra grega katergazomai ) não se refere à salvação pelas obras 2 (cf. Romanos 3: 21-24; Efésios 2: 8, 9; João 1:12; Romanos 10: 9), mas sim uma descrição da responsabilidade que o crente precisa possuir depois de ser salvo pela graça de Deus. E o fato de que Deus está trabalhando em você evidencia o agente causal (Deus) que engendra e capacita o trabalho para fora de santificação na vida do crente após ser salvo. Outras passagens que fundamentam o ensino bíblico da Santificação Progressiva incluem Filipenses 3:13, 14; Romanos 6:19; Atos 1: 8; 1 Coríntios 9: 24–27, 15:58; 2 Coríntios 7: 1; Gálatas 6: 7–9; Efésios 4: 1; Colossenses 3: 1-17; Hebreus 6: 10-11, 12: 1-2; e 2 Pedro 1: 5-11. Cada passagem ressalta a Santificação Progressiva, onde Deus que está trabalhando em você é Aquele que orienta o crente, e sua responsabilidade é trabalhar, ou seja, assumir a responsabilidade pessoal de alcançar o crescimento espiritual conforme Deus direciona em seu coração.
Segunda parte do artigo, aqui.
Imagem:
Erick Johannsson