O grande psicólogo analítico, Carl Jung, acreditava que o processo pelo qual o desconhecido absoluto, o caos, se transformava em ordem, não era precisamente cognitivo e linguístico, não articulado, em seus primeiros estágios. Em vez disso, o domínio do território totalmente articulado e compreendido estava cercado por um domínio sombrio de conhecimento nascente. Era nesse domínio que a emoção incipiente ajudava a estruturar o que ainda não era compreendido, e que a arte criativa e a imaginação começavam a estruturar a emoção, e esse mito derivou da arte. O artista vive na fronteira entre o caos e a ordem. O artista opta por viver mais fundo no caos do que o bom cidadão, e doma esse caos, ao sonhar, para que o bom cidadão comece a se sentir confortável ali, à luz do dia. Esse processo ocorre de maneira microcósmica quando os artistas, as galerias e os cafés se mudam para áreas urbanas caóticas e as transformam e tornam habitáveis por meio de seu trabalho criativo e mal pago. O que o artista faz em décadas na cidade, a arte faz ao longo dos milênios pela civilização.
Pode-se dizer que o conhecimento cresce como caos, caos incompreensível, e se transforma em ordem. Mas esta é apenas metade da história. Ordem é o domínio da experiência em que ações familiares produzem respostas desejáveis. A ordem pode se tornar estultificante, no entanto – esmagadora, sufocante, opressiva, previsível, monótona, sem vida, obsessiva, incolor, deliberadamente cega, auto-satisfeita, arrogante, imutável – precisamente porque o que sempre foi feito não deixa espaço para a experimentação necessária para se adaptar para o futuro desconhecido (e o futuro é, por definição, o surgimento do desconhecido). Às vezes, portanto, o conhecimento cresce à medida que a ordem é demolida, quando se torna sufocante. É por isso que o grande herói que enfrenta o dragão frequentemente é o assassino de um gigante, às vezes um ciclope, caolho – unilateral demais – apaixonado demais por sua própria singularidade de visão. E, na verdade, todo confronto com algo novo é a morte de uma velha preconcepção, uma revisão de um mapa antigo, a edição e atualização de uma velha história, de modo que o verdadeiro ato de adaptação criativa é sempre, em parte, a morte de uma ordem anacrônica. e, em parte, a adição do caótico e do revitalizante. É um ato de corda-bamba. É o surf de uma onda gigante. É a captura impossível em pleno vôo. É um solo musical que vai além da perfeição devido à flexão ou quebra de mil regras bem conhecidas e bem praticadas. É a curva fechada do piloto de carros de corrida que leva seu veículo aos limites mecânicos e físicos. É o discurso brilhante e apaixonado de quem arrisca tudo só para afirmar o que acredita ser verdade. |