Por Theodore Dalrymple, no JWR. Leia o artigo original aqui.
Mesmo Stalin, que não tinha grandes objeções à falsificação da história – para dizer o mínimo – não teria pensado em mudar retroativamente o sexo de uma criança em sua certidão de nascimento. Mas fazer isso agora é uma prática padrão em muitas jurisdições ocidentais, onde a verdade e a realidade devem ceder a vontades ou desejos individuais, a demanda de que se pode ser qualquer coisa que se queira.
Mas por que a capacidade de mudar a identidade se aplica apenas ao sexo? Por que não a outras características?
Sexo, afinal de contas, não é a única característica de uma pessoa que ele ou ela poderia querer diferente.
Na Inglaterra, um ator chamado Anthony Ekundayo (ex-David) Lennon solicitou, e recebeu, uma bolsa do English Arts Council para promover a liderança negra na indústria do teatro. Seus pais e avós eram irlandeses, mas ele disse que se sentia negro desde a infância, quando erai insultado por causa de sua aparência incomum. “Embora eu seja branco, com pais brancos”, ele disse, “passei pelas lutas de um negro, um ator negro”.
Existem várias ironias cruzadas no caso.
Durante muito tempo, foi considerado nos círculos intelectuais como uma ortodoxia que as categorias raciais não têm realidade biológica – elas são apenas as construções sociais de uma sociedade injusta. No entanto, o caso de Anthony Ekundayo Lennon enfureceu os atores negros porque ele desviou fundos destinados para eles embora não fosse verdadeiramente negro.
Quanto à propriedade de alocar fundos com base na raça, quase ninguém questiona.
(Os visitantes do British National Theatre ou da Royal Shakespeare Company ficariam surpresos em saber que os atores negros estão sub-representados no teatro, pois nas produções dessas companhias, pelo menos, parecem estar excessivamente representados, presumivelmente como resultado de políticas deliberadas.)
Ninguém percebe, tampouco, a inerente condescendência do financiamento especial de atores negros e artistas em outros campos. Não há fundos especiais, por exemplo, para os chineses, que se presume capazes de cuidar de si mesmos.
Enquanto isso, na Holanda, um homem foi ao tribunal para buscar o direito de mudar sua idade. Emile Ratelband, 69, um “palestrante motivacional”, afirmou ser discriminado por causa de sua idade. As mulheres não respondem a ele em sites de namoro por causa disso, embora seu médico lhe tenha dito que ele tem o corpo de um homem de 49. Ele solicitou ao tribunal que 20 anos fossem eliminados de sua idade legal, apontando para a habilidade de transexuais de mudar de sexo como um precedente. O juiz admitiu que o último teria sido considerado impensável há apenas alguns anos.
Então idade, sexo e raça devem ser questões de escolha. A pergunta que vem à mente é: o que vem depois?
Certamente, muitos de nós preferiríamos ser registrados em registros médicos ou de seguros, como a altura e o peso que sabemos ser, em vez de as métricas mais curtas e aumentadas atribuídas a nós, falsamente, pela sociedade e suas ferramentas empíricas.
A demanda para se escolher e alterar a identidade à vontade parece ser a barganha prometéica enlouquecida, as pessoas agora sendo incapazes de aceitar quaisquer limitações inerentes que não estejam de acordo com o desejo de seus corações. Você é o que lhe apetecer ser e você exige um reconhecimento público, oficial e retroativo de sua identidade desejada.
Os que desejam o mal ao ocidente devem estar esfregando as mãos de alegria ao observar uma população tão decadente. Os advogados também ficarão satisfeitos. Isso só pode significar um futuro, não de uma guerra de todos contra todos, mas de litígios de cada um contra todos.