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As mudanças – muitas e muito rápido – causam insegurança em quem não consegue acompanhar esse ritmo. Nunca a humanidade teve tanta alimentação, saúde educação. Essa riqueza propiciada pela inovação tecnológica, foi possível graças a um ambiente extremamente competitivo, meritocrático, e com bastante capital para investimento. O medíocre não sobrevive nesse ambiente de realizações pessoais, privilégios e respeito profissional.
Artigo de J.R. Guzzo, na coluna de Augusto Nunes, na Veja. Leia, na íntegra, aqui.

[…]o ser humano, hoje, encontra cada vez menos limites para transformar em realidade praticamente tudo aquilo que é capaz de conceber. Que coisas seriam de fato impossíveis? A lista diminui o tempo todo.

[…] Aceita-se […] que um dia toda a moeda do mundo estará transformada em sinais eletrônicos, que os carros não precisarão mais de motoristas ou que máquinas funcionarão como agentes racionais, capazes não apenas de tomar decisões, mas de tomar as decisões certas. […] o cidadão […] Admite que um dia robôs possam operar as torres de controle dos aeroportos ou fazer cirurgias. Mas não pode dizer “favela” — tem de dizer “comunidade”. Hoje em dia […]uma espécie de conselho de árbitros […]decide o que é certo e o que é errado […]

Esse tribunal é composto de membros ativos das classes intelectuais, professores universitários e “formadores de opinião” em geral. Seus juízes estão presentes em todos os meios de comunicação, nas escolas do ensino básico e nos sindicatos que representam hoje uma parte tão grande do aparelho judicial. […] Essa gente não tem, é claro, o poder legal de proibir ou obrigar nada. Mas exerce uma repressão cada vez mais aberta na esfera das ideias; torna o ar rarefeito para quem pretende pensar com a própria cabeça. […] Por esse entendimento do mundo, a liberdade de pensamento é ruim. A liberdade de expressar o pensamento é pior ainda.

[…] os avanços espetaculares da tecnologia de primeiríssimo grau e as perturbações brutais que a cada dia mudam, reduzem, deslocam, convertem ou eliminam todo tipo de coisa ligada ao mundo da produção e do trabalho estão criando rapidamente através do mundo uma imensa angústia quanto ao futuro. Atividades, profissões e ofícios estabelecidos há longa data simplesmente somem, substituídos por maneiras melhores, mais rápidas, mais baratas, mais úteis e mais inteligentes de fazer o que vinha sendo feito — e, sempre, com muito menos gente. […] A pergunta­ chave é: “O que vai acontecer comigo?”. […]

Existe no mundo do dia a dia uma ansiedade de ordem absolutamente prática — ela pega toda aquela multidão de gente que já sabe que nunca vai chegar lá. São os perdedores da atual “sociedade da inteligência”. Não entendem, simplesmente, como se trabalha nesta nova revolução industrial, ou que utilidade poderiam ter para ela. […]Sabem, por mais que se esforcem, estudem, façam cursos, que nunca vão conseguir participar […do mundo dos…] bem-sucedidos.[…]

Muita […gente…os considera] adversários, ou os responsáveis por suas dificuldades.[…]] Vão criando a convicção de que progresso é algo que acontece para os outros. Elas são, hoje, o grande público-alvo da pregação antiliberdade que se reproduz mundo afora. No entender dos novos evangelistas da esquerda mundial, há duas respostas para as frustrações dos que estão perdendo. Uma é propor governos cada vez mais caros. A outra é fazer regulamentos para criar mais igualdade — o santo remédio que corrigiria tudo. Acham, naturalmente, que o caminho mais curto para aumentar a igualdade é diminuir a liberdade. O resultado é que não conseguem a primeira, jamais, e depravam a segunda. Pode ser chato, mas basicamente nada mudou desde Balzac: a igualdade, dizia ele, pode ser um direito, mas nunca será um fato.

Nunca houve no mundo tanta gente vivendo com suas necessidades básicas atendidas, nunca uma porcentagem tão alta da população mundial viveu fora da miséria — uma vitória espetacular, num planeta com 7 bilhões de habitantes. Nunca houve menos fome. Nunca tantos tiveram tanta educação nem tanto acesso à saúde. Mas isso não muda ressentimentos e rancores. As pessoas querem o que não têm — e estão com medo de perder o que têm. É a melhor estrada para o tráfego das posturas contra a liberdade.

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Editorial

Colunista do Conselho Internacional de Psicanálise.

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