“O homem primitivo era muito mais governado pelos instintos do que seu descendente, o homem “racional”, que aprendeu a “controlar-se”. Em nosso processo de civilização separamos cada vez mais a consciência das camadas instintivas mais profundas psiquê humana, e mesmo das bases somáticas do fenômeno psíquico. Felizmente, não perdemos essas camadas instintivas básicas; elas se mantiveram como parte do inconsciente, apesar de só se expressarem sob a forma de imagens oníricas” (Jung, O homem e seus símbolos)
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Chama a atenção as palavras entre aspas e o “felizmente” no momento da conclusão. Atormentado pela ideia de ter que lidar com demônios, uma possibilidade impensável para um acadêmico de sua estirpe (embora ele, acadêmico, escrevesse – e muito – sobre astrologia e outras cositas más…), Jung precisou criar uma espécie de transição psíquica entre o mundo governado por símbolos (o do homem primitivo) e o que tenta controlá-los (o do homem racional, entre aspas), como forma de situar dentro de diagnósticos eventos aparentemente inexplicáveis para essa “racionalidade”, que só faziam sentido em gerações muito anteriores.
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O problema é que esse símbolos não se tratam especificamente ou exclusivamente de meras representações de uma esfera interior, inconsciente ou subconsciente, ainda que muitas vezes, expressa em sonhos, e por isso mesmo taxada de exteriorização involuntária. Nem sempre. O que Jung chama de “instinto” na verdade é a identidade nata da criação, algo como uma “impressão digital” que existe em todos os homens que os permite interagir com um tipo de realidade que sua racionalidade não pode apreender, mas que nem por isso deixa de ser realidade.
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É como diz Mircea Eliade, ao explicar o mito: “O homem só se torna verdadeiro homem conformando-se ao ensinamento do mito, imitando os deuses”.
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Ao interiorizar o mundo como simbologia inatingível pelo consciente, não conseguimos conectar essa ideia com sua própria gênese, ou seja, tiramos da cartola uma explicação descontextualizada por não admitir que a peça que falta para complementá-la não pode ser usada, mesmo que ela exista. O “Instinto” quase sempre é a nossa reação natural que nos permite prosseguir como civilização. Ou o que seria de nós sem o instinto de sobrevivência ou de procriação? Isso é fruto de observações das condições climáticas, por exemplo? É óbvio que não. Isso vem de quem nos criou.
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“Conhecer o não-conhecimento é o bem supremo.” (Lao Tsé, Tao Te King).
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