O assunto é um transexual sofrendo pelo mundo não orbitar ao redor do seu ego. Até aí não há problema já que é isso que se espera de um narcisista. Mas pelo menos dois veículos de mídia criaram manchetes dando a entender que o calor é transfóbico.
Abaixo, trechos do artigo de Travis Alabanza, que se apresenta como “trans queer e inconformista de gênero”:
Quando estou prestes a sair com alguns shorts escandalosamente coloridos e um top ainda mais brilhante, mostrando minha barriga peluda, me preparo para a atenção indesejada que isso pode trazer. Penso em como não são apenas os corpos trans e queer que se editam lá fora, mas também como, com o calor, há outras pessoas que podem estar tendo esses medos e novas ansiedades.
Assim é a mente do narcisista. O culto a si próprio impede o raciocínio, quanto mais elucubrações. Escandalosamente coloridos, brilhante e peluda compõem um aspecto que pode trazer atenção indesejada, segundo ele. Se realmente almejasse desinteresse, ele se vestiria com discrição, mas ele não quer responsabilizar-se por suas escolhas, quer ser admirado de forma unânime.
As mulheres, especialmente aquelas que podem ser gordas ou de pele mais escura, enfrentam uma quantidade maior de policiamento ao ar livre neste clima. Eles recebem encaradas, gritos e olhares indesejados. Penso na minha amiga que tem cicatrizes visíveis nas pernas, que rotineiramente teme como as pessoas vão reagir a elas, ao aparecer ao sol.
Todas as sociedades possuem padrões. Felizmente a obesidade ainda não é um deles, por isso pode, eventualmente, atrair olhares. São, contudo, inofensivos para espíritos menos inseguros e débeis.
Eu penso em como o calor traz ansiedade para pessoas com tantos tipos diferentes de corpos – corpos que são alterizados – e como é triste vivermos em uma sociedade que julga os corpos como quebrados e danificados, em vez de comemorar a positividade em como eles aparecem.
Não, não são as pessoas fora do padrão que têm ansiedade, são pessoas despreparadas para enfrentar o presente e o futuro. A causa dessa incapacidade é não ter tirado lições dos problemas do passado. A propósito, se Alabanza julga a sociedade que julga, então isso é um empate, certo?
Faço uma pausa quando estou prestes a sair e desejo ruas que sejam mais seguras para nós e um futuro que eventualmente tenha o público comemorando a diferença e a beleza, em vez de nos punir por existirmos.
A beleza é um conceito por um lado arbitrado pela sociedade. Por outro segue padrões inatos. O cérebro é programado para apreciar a simetria, um indicativo de saúde e, portanto, parceiro preferível para procriação. Como o narcisismo é patente a cada fala de Alabanza, o seu “Punir por existir” dá a medida de desdém pelo ser humano, já que ele não tem como não estar informado sobre o sofrimento real de seres humanos ao seu redor.
“A onda de calor é perigosa para pessoas não conformes de gênero” é o título do outro artigo, que continua com a mesma choradeira:
Minha tentativa de me refrescar no calor é recebida com gritos de ‘bi@@a’ e ‘doido’. Os olhares no metrô são direcionados a mim pelas minhas escolhas de roupas.
Eu vejo um grupo de homens crescidos tirando uma foto minha enquanto perguntam por que estou usando esses ‘shorts gays’ e me pergunto como masculinidade e gênero se tornaram um conceito tão frágil que não consegue lidar com um par de shorts H&M cortado em um certo comprimento?”
Encobrir é uma tática que aprendi com anciãos trans que vieram antes de mim; eles me sentavam nos meses mais frios e diziam: “Claro, use isso, mas coloque isso por cima quando estiver na rua”.
O mundo me rotula como ‘homem’, mas me vê de shorts curtos, top e óculos escuros, e me pune por isso na rua.
Alabanza considera-se uma pobre vítima, apesar do espaço que a mídia lhe oferece e apesar de ser adulto, o que pressupõe capacidade de se defender. Mas todos que o cercam fazem dele um herói por ser transexual, e ele fez disso sua identidade.
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Imagem:
Tuíte de Anika Molesworth