O comunicólogo social Willy Schumann fala de sua experiência como psicanalista a partir da sua trajetória no cinema e no jornalismo.
Formado em Comunicação Social pela Universidade Tuiuti do Paraná, Schumann foi muito além da sua trajetória no cinema, TV e jornalismo. Se interessou pela psicanálise em meados da década de 90, onde buscava compreender o ator e a estruturação de personagens através da psique humana. Para ele a construção de um personagem deve começar pela alma.
Começou a ler Jung e se encantou pelos conceitos do inconsciente coletivo e arquétipos, como mecanismos da compreensão da psique. Depois vieram Freud, Lacan, Winnicott, Melanie Klein e não parou mais.
- Schumann já ganhou prêmios em festivais nacionais como diretor e produtor. Seus artigos já foram publicados em importantes órgãos de imprensa, tais como The Huffington Post (Brasil Post), Observatório de Imprensa, Paraná-online, Paraná Imprensa, dentre outros.
Autor dos livros “Cidade dos Monges” (Editora Livro Novo, 2012) e “A Europa Vista por Willy Schumann” (Editora Instituto Memória, 2013). Participou também de coletâneas de contos, além de escrever o prefácio de obras literárias de vários autores brasileiros.
Como foi essa sua trajetória na comunicação até a psicanálise?
Sempre me interessei pelas teorias da comunicação humana. Queria também conhecer o universo da psique humana com o intuito de colaborar na construção de personagens juntamente com os atores de cinema e televisão. A partir do momento em que o ator consegue compreender a estrutura de um personagem que vai interpretar não é preciso falar muita coisa para ele no set de filmagem. Fui buscar estes elementos na psicanálise. Sempre gostei de observar o comportamento humano e meus estudos da psicanálise vieram de encontro a este conceito epistemológico.
O cinema tem um lugar de destaque na sua vida?
O cinema é uma atividade que exige muita paciência e dinheiro, que não corresponde aos projetos relacionados às políticas públicas na área cultural do país, o que sempre me deixou decepcionado. Passei quase dois anos na Europa sem pensar em cinema. Como tenho cidadania alemã, tive o privilégio de poder me dedicar aos estudos da história da humanidade e da psicanálise. Com isso as atividades cinematográficas foram ficando para trás, diferente do meu irmão gêmeo e parceiro, Werner Schumann, que agora mora em Londres e está lançando seu primeiro longa-metragem totalmente rodado na Europa em parceria com produtores alemães e britânicos.
Qual a diferença entre psiquiatria, psicologia e a psicanálise?
A Psiquiatria é uma especialidade médica que cuida das doenças mentais que durante o tratamento do paciente pode fazer uso de prescrição de medicamentos.
Pessoalmente acho que a psicofarmacoterapia pode ajudar por um lado e danificar pelo outro, mas em alguns casos se faz necessário.
A Psicologia estuda os aspectos comportamentais do ser humano, sejam eles emocionais ou cognitivos.
A psicanálise é a teoria criada pelo médico Sigmund Freud para explicar o funcionamento psíquico do homem, tomando como ponto de partida a investigação do inconsciente.
As dores na alma fazem parte da ontogênese do ser humano. Algumas dores são mais pungentes e precisam ser depuradas para que o indivíduo possa melhorar a sua trajetória de vida.
Quais os distúrbios que podem ser tratados através da psicanálise?
A psicanálise ajuda no tratamento de distúrbios que são inerentes ao ser humano, tais como os distúrbios psicossomáticos, fobias, depressões, neuroses, ansiedade, conflitos existenciais, histerias, angústias, transtorno obsessivo compulsivo, dependências, transtornos de conduta, distúrbios alimentares, manias, estresse, estresse pós-traumático, dentre outras.
Pode haver 100% de chance de cura de um paciente?
Depende do caso a ser avaliado. Uma criança autista, por exemplo, possui uma visão introspectiva do mundo a sua volta que o impede de se relacionar com seus familiares adequadamente. A psicanálise estreita os laços emocionais e comunicacionais no âmbito social, além de preparar os pais de forma estratégica para este convívio. Isso já representa um avanço considerável em um tratamento desse porte.
Qual é a relação entre a comunicação e a psicanálise?
Lacan afirmava que a linguagem é o decodificador do inconsciente. A comunicação e a psicanálise são duas ciências que seguem caminhos paralelos e a partir de uma convergência de seus elementos e conteúdos criam uma simbiose, fundamental no processo cognitivo-comportamental. Esta interface traz respostas consideráveis sobre o comportamento humano.
Qual é o resultado deste método?
Cada paciente interage de forma instintiva ou até mesmo idiossincrática. Lacan fez uma releitura das teses de Freud sobre a importância da linguagem. A forma como o paciente se comunica, seja através de palavras, gestos ou olhares, identifica criteriosamente os sintomas e o grau de problema a ser tratado. Freud afirmou que nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.
Qual a relação entre jornalismo e a psicanálise?
O jornalismo é um processo de investigação de um fato e a psicanálise também transita nessa esfera, só que investiga a mente do indivíduo. Essa junção da comunicação e da psicanálise deu-me visão ampla de como poderia ajudar as pessoas com as suas dores existenciais. Modéstia à parte, tenho um talento nato para observar e aconselhar as pessoas com problemas. Após anos de estudo da psicanálise começo a compreender o fascinante processo de investigação da mente humana a partir da linguística.
O Senhor acredita que a psicanálise pode resolver parte do sofrimento humano sem complexidade?
Descartes afirmou que não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.
Sei exatamente o que é a dor na alma, o que é uma depressão neurótica, um relacionamento amoroso desfeito, porque passei por tudo isso, inclusive por sessões de análise. Todo o meu sofrimento não foi em vão. Pois foi através de minha experiência de vida é que consigo compreender e consequentemente ajudar o próximo. Certas tensões causadas por determinados estímulos internos e externos são demasiadamente traumáticas. Tenho uma constatação axiomática; sofrimento é inevitável, porém podemos ter uma atitude menos dolorosa durante este processo que necessita ser trabalhado. Sempre acreditei que não podemos parar de reescrever nossas vidas. Podemos melhorar constantemente aquilo que já foi escrito.
O seu ponto de equilíbrio está na comunicação e na psicanálise?
Divido meu tempo entre o trabalho como comunicólogo, jornalista, psicanalista e conferencista, que são atividades imprescindíveis para mim. A dedicação ao trabalho e a família me deixa extremamente feliz e este é o meu equilíbrio.
Contato:
Willy Schumann
Comunicólogo, Psicanalista Clínico
Consultor em Desenvolvimento Humano